quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
CLARIANA ROSANA , ela sabe!
Depois dois Van Gogs, claros acasos, tudo vai ser permitido pra acontecer como acontece uma floresta sem chuvas, como caminha uma estrela descalça... O cachorro observa as frutas ao mesmo que o gado se mata na estrada... A pastagem consome lentamente a carne ao mesmo que o vazio aumenta as preces.
E ela não sabia de nada, continuava isolada, o seu tudo era carvão e solidão numa folha feita varrida de pedra, com a mesma paisagem pra admirar todas as tardes que caíam de bruços no sorriso deitado... Ela sabia, e no seu negro rabisco... FEIO, TRISTE, e HORRÍVEL contorcionava letras pra abafar as folhas que sobem da mesma árvore que não se mexe... Que não se muda... Que IRRITANTE não sai do mesmo lugar, e faz de circo a alma dela que não sabia nada!
“Motorista atropela três pedestres e um morre em acidente...” “Preço do petróleo registra queda.” “Polícia apreende dois menores com armas e drogas no subúrbio.” “Confira como está o trânsito na Capital.”
É... Você precisa de uma professora pra saber que a vida é boa. Você precisa de um pouco de água e lodo na palma da mãe pra saber que fortalezas também são frágeis. Estilhaçando abstratos as grades confortam com dedos longos a sugar suaves companhias... Clariana... Rosana... Que HORRIPILANTE, AMEDRONTADOR, e MINÚSCULO é seu polegar infame. Não pensas mais que meia dúzia, não vives mais que um gramado queimado, não padeces mais que uma guerra de televisão.
Ela sabia que não sabia de nada. Nada é prece de quem espera o que não conhece. Saber só o que se quer é LIMITAR um tudo que não existe... Ela sabia que o longe dela ficava a poucos metros. O arroz do chão se colhe ainda no altar em frente aos santos pra que nasçam novos amores de raiz e pedra... Ela sabia que Clariana Rosana emana, a MALDADE eram insetos coagulados nas paredes.
O que fazem? Como vivem e morrem as pessoas sem sonhos?
O que muda? O que agrada e move as pessoas sem sonhos?
“Retomadas as buscas a desaparecidos.” “Ação militar libera seqüestrado.” “Perseguição termina com idosa morta e cinco feridos.” “Marido desiste de processar atriz pornô” “Dia de hoje é regido pelo número da espiritualidade.”
INSONHÁVEL é ser INCOMPATÍVEL com uma maquina que nem funciona mais... Qualquer peça substitui os fluidos e correias de carnes e veias... Clariana nem sabe ligar no botão de ‘off’... Rosana decora manuais ULTRAPASSADOS. Ver gente viva é um desejo que ela ainda CONSOME, saber menos de tudo, e alguns pontos crepúsculos do nada faz sua lógica continuar a MODERNISTA dos séculos. E é assim que o universo se completa em duas pegadas, que a via lactea a e todas as marcas de mundo se explora com sapato de nuvens negras. Qual o segredo para olhar para o lado e ver além? Qual o segredo para conseguir de verdade ser alguém?
"Sobe para 48 o numero de mortes no estado." "Viaje pelas florestas com imagens panorâmicas." "Cientista batiza aranha com nome de estrela do rock." "Estudo detecta vírus que pode ser causa de câncer." "Segundo antiga profecia o mundo deve acabar daqui a 24 horas."
Qual o segredo para olhar para o lado e ver além?
O que fazem? Como vivem e morrem as pessoas sem sonhos?
Douglas Tedesco – 9/9/2009.
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Pra Morrer dois Minutos!
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Todos fazem com todos!
- Não meu bem! - E por que não? - Me diga primeiro porque sim. - Por que você é a única que pode fazer isso, sabe disso. - Sim, mesmo assim, não tem lógica... Porque fez isso? - Tax tolo? - Por que? Que que custa? - Me diz primeiro porque tem que ser eu. - Pelo amor de Deus né querida, tu sabes que só tu no mundo pode fazer isso.
- È né, assim mesmo não tem sentido nego... Por que que tu fizesse isso? - Esquece brother! - Pô, qualé? Não ferra! - Antes desembucha tim-tim por tim-tim dessa parada. - Aí, tu sabe que é a minha txutxuca que quebra esse tipo de galho pra mim mina! - Sem crise mano, mas é sem noção essa parada... Por que que tu deixou ela rolar? - O deixe disso bixim! - Posso não, vamo lá!
- Primeiro explique isso meu rei. - Ô xente, cê sabe que nesse nordeste todo, tu é minha arretada que faz isso pro seu cheiro aqui. - Sei sim, e porque cê num se cuidou? Qual foi o motivo docê ter desimbestado disso agora? - Tipo assim cara, não vai dar. - Meu cara, nem zoa. - Ta cara, mas tipo assim, fala mais desse lance. - Meu cara, nem vai dá. Mas tipo assim, tu ta ligada que mais ninguém pode fazer isso né cara. - Beleza cara, mas tipo assim, porque ta rolando esse lance? Ficou totally crazy cara?
- Oh, sinto com pesar mas é impossível Antônio Manoel! - Não me trates assim Joaquina Pedrózia. - Por favor, olhe para meus olhos e me fale amor destes tormentos que lhe acometem a vida. - Relatarei sem pesar mais ao mais tardar, porém faça, pois sem ti nada mais existe. - Sim vida minha, entretanto fala-me que entreveros te levaram ao acaso... Perdeste a lucidez? - Mas bá, te digo que não vai dá. - Poxa, porque guria? - E né, até vou ver, mas tu me fala mais dessa coisa trilegal aí guri.
- Mas bá Tchê, depois te conto guria, mas fazzz pra mim, fazzz. - E né, mas eu to Por toda gauchada querendo saber o que é isso... Tu ta bem mesmo Guri? E demoraram-se pra saber o que havia acontecido, e o meu bem ficou sem socorro, o nego ficou tolo, com o brother não rolou as paradas, o bixim desimbestou, tipo assim, o cara ficou totally crazy, o Antônio Manoelperdeu a lucidez, o guri deixou de ser trilegal... E jamais fizeram ou souberem de mais detalhes.
Douglas Tedesco – 10/2007
Certo ou Errado, mas precisamos!
Agradar a gregos e troianos é impossível... O ideal seria uma era em que o melhor de cada século já passado mesclasse num único elixir de décadas e pudéssemos tentar ser feliz da mesma maneira, mas ai já é pedir demais e nem gênio da lâmpada realiza algo assim. E o fato é de todos os lugares sofrem com estes gostos e contragostos da modernidade mecânica, da cordialidade mínima quase extinta... Ainda sobrevive em alguns pontos, mas está se erradicando, e as tentativas de reativa-la parecem não estar tendo muito sucesso. É normal que esqueçamos das coisas quando atingimos outras, mas as artes de nosso povo é algo extremamente importante: é um meio de comunicação, uma forma de adquirir conhecimento, um entretenimento e por aí afora cheia de adjetivos intermináveis e verdadeiros. Em remotos e passados tempos, existiam mais teatros, mais grupos de teatro, mais cinemas, mais espetáculos, mais arte por onde quer que a gente passasse, no entanto ao invés de evoluir, crescer, estas ferramentas estão apenas desaparecendo... E uma parcela disto se deve as prioridades, arte não é prioridade, mas é importante, porque faz crescer, faz o ser humano primar pelo bem feito, pelo detalhe e constituir uma sociedade ainda melhor, ou seja: EVOLUIR!
Um grande, quase que imensurável e desgraçado problema é que a arte é muito bem vista sim, mas como entretenimento. A arte assim como o resto do mundo também evoluiu, e passou a ser negócio, passou a girar capital na economia mundial, a ser terapia, a influenciar na saúde, no conhecimento, intelectualidade e Q.I. dos habitantes deste nosso planeta terra. Este problema se estende ainda mais quando tratamos do modo de fazer arte: artistas ainda sofrem um preconceito extremo e ridículo, a menos que seja a nível de televisão ou cinematográfico... Mas quem faz teatro é gay ou prostituta, quem faz artes plásticas é louco, viajão, débil-mental... Ressaltando que este autor apenas está divulgando palavras de um apanhado geral popular e desinformado, de gente sem conhecimento sobre arte, pois este autor mesmo é escritor e ator, então não me caberia estar agora se contrariando... Então continuando estas linhas de desprezo a alguns pontos modernistas, digo que a fama é uma grande companheira, pois faça o que fizer, se é famoso “tudo bem”, mesmo que alguém anônimo na multidão seja mais genial, menos óbvio, quem tem mais sucesso, tem mais vez. E ainda tratando do modo como se vê a arte, a maioria da população quase que despreza um curso de teatro, porque julgam que este serve somente para quem quer aprender a atuar, mas tiremos as vendas da ignorância, um espelho de banheiro e um curso de teatro é imprescindível sim para quem quer ser ator, mas também é ótimo na vida daqueles que querem melhorar os relacionamentos, aprender a ter mais jogo de cintura na sociedade em geral, aprender a expressar ou esconder suas emoções e sentimentos, aprender a conviver melhor na sociedade e consigo mesmo de forma mais saudável. É tão difícil entender, e porque as mídias de sucesso não dão uma força para a propagação destas artes? Medo? Há público para todos, ou seria falta de tempo, devido a imensa quantidade de barbaridade comercial que tem de ser posta no ar? Sem respostas, lamentemos novamente, visto que a arte é do povo para o povo, para ser assistida desde o subúrbio até o mais alto escalão financeiro... Para ser discutida, contemplada, reflexiva, incentivadora, consciente, e não sinônimo de ostentação de riquezas e poder, não programa de elite, pelo contrário, é para unir as classes, e de qualquer forma, mas sadia e certa, que aconteça porque nós precisamos! Então eu suplico em uníssona oração a todas as crenças: faça quem pode promover mais arte, ter ciência e gosto por isso, porque não é tão difícil, e podemos criar a partir daí uma legião da humanidade ainda mais humana e fazer deste mundo um só, e com a minha arte, a sua arte, a arte nossa, a arte de todos fazer um mundo mais compreensivo, mais evoluído... E claro: moderno!
Por Douglas Tedesco
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Homem-aranha sem Mary jane
Peter Parker foi picado pela aranha geneticamente modificada no dia 9 de outubro... A quem isso interessa? Maria, a louca, só foi louca apenas nos últimos 21 anos de sua vida... Sentiu alguma diferença? Na China, os pauzinhos para refeição chamam-se ‘kuai-tzu’, já no Japão os mesmos pauzinhos recebem o nome de ‘hashi’. Tempos diferentes e informações vagas. Intermediário conhecimento, que provavelmente não mudará sua vida... mas fazem a diferença á muitas pessoas, á diversos pontos da humanidade. Tal como glórias pessoais de qualquer anônimo não irá mover o mundo. Um momento! Uma correção: não irá mover o globo de forma geral, porque, com certeza, irá abalar as estruturas da personalidade em questão. É uma incógnita pessoal. De tantas certezas, a mais certa é de que de repente tudo pode mudar, “2+2” pode resultar em 5 ou 6 e julgarem isso não ser loucura... Mesmo porque quem é o mais correto, puro, todo certo pra julgar? Outra certeza é que toda balada você deve curtir como um louco, como se estivesse a duas décadas dois dias e cinco horas sem pisar numa festa! No entanto isso não significa beber até cair, fazer escândalos ou vexames. E falando em festa, é o pior lugar para se tratar de negócios, porém é um dos melhores para combinar uma reunião para tratar de negócios... E tratando ainda de datas esperadas (porque uma boa festa se espera muito antes da data exata), não há como a véspera delas, a hora exata do acontecer passa como um flash, tão rápido que é quase lembrança. Já a véspera é a programação de cada passo, onde o itinerário é perfeito, e as coisas são, imaginariamente, como você planeja. Agora um pouco de verdades: Mãe não é tudo igual. O macarrão não foi inventado na Itália. O Gargamel dos Smurffs não era malvado. Nem sempre liquidações valem a pena. Primos não são parentes. Judy Garland já era bem maior de 18 quando fez o Mágico de Oz. Sapatos de salto-alto prejudicam a coluna e a estrutura do pé. Cameron Diaz tem várias espinhas no rosto. Os alemães não são todos frios! A guerra dos 100 anos durou 116 anos. Fazer compras no supermercado é mais eficaz para emagrecer do que uma prova de arco e flecha. A maioria das garotas que brincam de barbie passam no mínimo 5 minutos colocando uma camiseta na boneca. A Maga Patalógica é apaixonada pelo Tio Patinhas. Não existe tratamento anti-celulite, nem anti-rugas. Romeu era um galinha e Julieta uma garota rebelde louca para fugir de casa. (...) uma pausa. Um pausa, porque afinal uma hora tudo descansa... No banho, lendo os rótulos do shampoo você descansa. Na privada contando azulejos você descansa. No sofá tirando a cutícula com os dentes você descansa. Brincando com seu cachorro, lhe falando do mesmo jeito que uma criança de 4 anos, você descansa. Na praia, em sua cadeira a beira-mar, encolhendo a barriga quando uma gostosa passa, você descansa. Assistindo um filme antigo, esperando o remédio pra ‘frieira’ fazer efeito, você descansa. (...) Descansados é hora do retorno, porque tudo que não tem pausas chega ao seu importuno momento em que a máscara cai, sem pausa ela é obrigada a desabar... Já que: Ninguém é durante 24 horas um sedutor furtivo de boas saídas, como a personagem de Sharon Stone em Instinto Selvagem. Ninguém tem a fofura do Papai-Noel da propaganda da Coca-cola. Ninguém tem o carisma de Ivete Sangalo, ou dos Ursinhos Carinhosos. Ninguém consegue ficar tanto tempo tão maquiada e tão louca quanto Cindy Lauper. Ninguém consegue ter mais frescuras do que Cleópatra. Ninguém faz biquinho melhor do que Rita Lee. Ninguém consegue ser tão feio quanto o garoto propaganda da Bom Brill. Ninguém consegue ser tão frio quanto um segurança em uma cidade estranha. Ninguém conseguiu inventar tantas neologias quanto J.K. Rowling para as obras Harry Potter. (...) Agora realmente retornando, realmente retornando mesmo: Quanto vale a vida? Excluam a questão do preço de partos em maternidades e de prostitutas em esquinas e casas de luxo. Quanto vale a vida? Quanto vale a sua felicidade? Algumas coisas tem preços, outras não. Algumas coisas são caras, outras não. Esta descarada divisão é que nos mata, porque a igualdade é tão distante? Até quando teremos de aturar tudo isso? Até quando as coisas serão privadas? Até quando teremos de resistir ás tentações do Burger King e Mcdonalds? Até quando Bety Boop vai ser encarada como pornográfica? Até quando teremos de contar o tempo enquanto fazemos carinho em nossos filhos? Até quando teremos de suportar a falta de um beijo de boa-noite? Até quando vamos ouvir que é “falha no sistema”? Até quando Coiote vai perseguir o Papa-léguas? Até quando os EUA vai pensar que é a mãe do mundo? Até quando a tinta de jornais impressos vai sujar os dedos? Até quando os sabonetes irão escorregar pelo banheiro? Até quando os sorvetes e chocolates serão altamente calóricos? Até quando os celulares ficarão fora de área? Até quando regaremos as flores de plástico? Até quando tudo será “pelo bem do povo e felicidade geral da nação”? Até quando a globeleza será pintada? Até quando vamos nos perguntar quem matou Odette Roittmann? Quanto vale a vida? Será que tudo se resume a reproduzir para os amigos as famosas propagandas da TV: “Hello, a gente é bicho baby!”? Imitar em público Walter Mercado e Silvio Santos? Corrigir e rir do dicionário dos moto-boys? Tentar a paz com a sogra, aturara futebol aos domingos, e xingar políticos? Preparar pratos especiais para ocasiões especiais? Escolher a melhor tintura de cabelo e o melhor salão de beleza? Acompanhar os lançamentos do cinema, pra aprender a ser crítico? Ser um dos primeiros a comprar a nova edição da Playboy e o novo CD das paradas? Ser recebido pelo seu cachorro abanando o rabo? Conseguir criar alguma coisa que você realmente sabe? Receber um, dois,dezessete elogios? Ter seu prato favorito no almoço? Ganhar uma toalha de banho com seu nome bordado? Saber a coreografia e a letra da música do momento? “Piripipiripipirigueti!”? Ter um novo contato no msn, “amigo” no orkut, ou boa imagem no flog? Ser visto com a pessoa que é o sonho de qualquer um? Passear naquele carrão desejado por todos? Achar uma nota alta perdida no chão? Finalmente conseguir uma ligação para ‘aquele’ programa de TV. Ser invejado por qualquer coisa? (...) Sim, pode ser isso! Mesmo tudo isso sendo futilidade! A felicidade num todo complexo, de mala e cuia, o pote de ouro no fim do arco-íris não existe! Ela é confundida com o simples bem-estar. A felicidade é mais e menos. Mais que bem-estar e menos que a eternidade. Esta coisa chamada felicidade é feita de pequenos momentos, uma iguaria ali, outra aqui. Tudo se resume não a ter felicidade, mas a transmiti-la! Por isso para ser feliz só dependemos de uma coisa: do outro! Nos julgamos independentes, fortes e “inmassacráveis”, mas sem o outro somos nada. Para tudo é necessário o aval do próximo, o mecanismo acionado de mais alguém. Por isso inteligência é confundida com loucura, ousadia com segurança, simpatia com beleza. Sem os outros não funcionamos. Somos como: Homem-aranha sem Mary Jane, Clark Kent sem Lois Lane, Tarzan sem Jane, Xuxa sem baixinhos, frango sem catupiry, Cérebro sem Pink, princesa encantada sem fada madrinha, Branca de Neve sem anão, Dick Vigarista sem Mutley, Batman sem Alfred, Gomes sem Mortícia Adams, Elizabeth Taylor sem vários casamentos, Napoleão Bonaparte sem mão na barriga, Sinhozinho Malta sem relógio largo, Marilyn Monroe sem vestido branco esvoaçante, Perpétua sem guarda-chuva, 007 sem garotas bonitas, Vilma sem Fred Flintstone, Indiana Jones, sem cavernas ou ratos, modelos sem cara de mal, Glória Menezes sem Tarcísio Meira, Luluzinha sem Bolinha, domingo sem ‘Fantástico”, Homer Simpson sem cerveja, Jornal Nacional sem Willian e Fátima, Brasil sem samba, Stephen King sem grito, chuva sem barulho de plic-plic, cantor de axé usando manga comprida, ou sem sorrir, Big Brother com gente feia. É assim que somos sem os outros, somos nada. E ainda que tudo a pouco citado seja mesmo futilidade, é o que nos traz aos poucos felicidade e felicidade é essencial. Sua felicidade é o outro quem coloca valores. Sua vida é um carnê mensal, uma prestação sem prazos de quitação ou limite de juros. Futilidade é essencial, “essencialidade” se compra, no comércio e preço da sua imaginação.
08/02/2008. ás 00:50h Douglas Tedesco
ECO ( série Cyndi Lauper)
A gente ouve perfeitamente a imagem, consegue ver com perfeição a sinfonia. Mesmo assim vão faltar ruídos. De qualquer modo vão fazer mais um pedido. Mais uma vez ninguém ouvirá minha voz. Mais uma vez ouvirão apenas o resto de nós. As promessas continuarão intactas. Um fantasma de nome próprio circula vivo, seu nome comum me espanta ao primeiro toque. Andam vagando... Vagam andando... Estando vaga a andança pra outro ser que não perturbe. SILÊNCIO... Opiniões se jogam a todo instante do telhado de algum lar. As minhas lágrimas e as minhas noites onde estão? Naquele céu que as estrelas não falam, naquelas gotas que não carregam pranto ainda há de haver algum mistério. Uma batalha pra contê-las, uma alegria pra escondê-las. Olhos na vertical pra uma luz bem apagada... Mas eu vi... Contei... Escondi... Respondi... Ri... Esperei meu próprio retorno em voz e imensidão. Um qualquer distante ainda não é o bastante. Obstinados se jogam do espaço. O vôo não decola, armas, rosas, alguma esmola. Gotas perdidas em que tudo perde a graça... Sem graça... Nem de graça... Desgraça... Disfarça... Amordaça... A voz em imensidão me preencheu completo. Um vazio sem tamanho perdeu-se nas casas. Mas não deixem que sintam falta, não deixem que mudem a expressão, Não deixem que gritem qualquer sussurro, não deixem que ultrapassem um simples murmuro, não deixem que neguem meu esquecimento. E as minhas memórias e vultos onde estão? Exterminaram a alegria pra não liquidar com a solidão... Mas ainda ouvem, com magnífica certeza ouvem, temem, se desesperam de súbito e ouvem, numa atemporal estação ainda ouvem, quando o medo governo, quando a ausência os reina... Eles ainda ouvem.
Douglas Tedesco – 20/11/2008
DO LADO DE LÁ DO INFERNO
É quando eu penso em solicitar o dossiê de todas as odisséias que um par de brilhantes me sussurra antipático.
É quando eu qualifico todos os adjetivos que um senhor de mau humor despeja do céu o problema maior.
Pergunto por que não há mais perguntas. Cavalgo num timbre de cinco patas, cintilo como o pó daquela vidraça, e vivo como morre a traça: vilão do intelecto, sorrindo por bem feita desgraça.
São apenas dois passos, há apenas um caminho. São apenas dois goles, há apenas uma voz. São apenas duas presenças, há apenas metade do mar. São apenas dois corpos, há apenas uma cor de sangue. São apenas duas portas, existem milhares de olhos na escuridão.
O lado de lá do inferno, a proximidade do azul. O que não sustenta cresce incessante, o que não veste seduz os invisíveis, o que não mergulha subtrai em laudas desertas, o que não inflama prega a tensão do gelo, o que não rosna grita uníssono na metamorfose, o que não acontece a mente purifica... E todos continuam do lado de lá... Do inferno.
Ao que já assistiu o pior do fim não comove um gênesis em aurora. Ao que ainda sobrevive sano uma caverna é qualquer oásis, uma bondade é manter-se longe, uma verdade é ocultar mentiras, uma injustiça é oferecer auxílio, uma ameaça é brindar com sorrisos. Pra quem está do lado de lá, o mínimo movimento é o piso, o mínimo silêncio é juízo, a mínima paisagem é paraíso.
Douglas Tedesco, 14 de junho de 2009.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
FANTASMA DE CIRSTO (poema)
Tijucas, SC, 25 de julho de 2009 às 18h e 52m
Fantasma de Cristo
Vinde a mim toda maldade, pois eu sou o caminho e a verdade mal-vinda.
Um colosso, o dogma da existência perseguida aos inocentes e cegos, e a única dúvida é da minha carne, do sangue que não jorra, do milagre que a ciência mortifica, sou eu toda causa das dores e males, sou eu toda poça funda de glória e toda perdição do globo... Eu quem nasço, eu quem mato, eu quem enterro e prontifico, eu quem brinco de Messias com meus discípulos.
O céu acredita?
O mal acredita?
Quem acredita tira os pregos do pulso e levanta a mão! Tua manjedoura é cômodo em mogno, teu anjo branco queima a própria auréola, tua luz divina se corta num ‘clique’, teu manto sagrado é farrapo barato... há uma cova aberta, há tantas mentes fechadas, há uma alva bêbada e viva , e ainda é somente o terceiro dia de festas.
Cresce o menino que ao toque ressuscita, cresce o menino, lascívia entre os dedos... se faz um sexo século pra provar do pecado, abraça a serpente pra morrer de tentação. Por que todo colo da voz, por que todo colo da lágrima se a maçã mordida nem causa ferida? Nós temos todo templo do mundo, toda extinto libido do mártir, todo instinto e transa dos santos.
O que significa o ato?
Tinhas que morrer de fato?
As trevas é um saboroso prato.
E vai ficar pra eternidade o desejo, vai apodrecer tua palavra e o medo... a memória é carne falha e não encarna mais que a própria batalha.
A humanidade já explodiu, toda seita ruiu, e agora bravejam demônios, fagulhas de péssima oração... ao menos depois do inferno, é só aparição.
Quanto vale um milagre?
Quantas Judas compram minha fé?
Há um leilão por um vulto, tua paz celeste só causa mais tumulto.
Aproveite as promoções do templo.
Aproveite as ofertas de salvação.
Aproveite: Jesus Cristo está em liquidação!
Douglas Tedesco
domingo, 19 de julho de 2009
RÁDIO MEIA-NOITE
Tijucas, 13 de julho de 2009 – 17h e 45m
Rádio Meia-Noite
Ponto, tudo pronto,... Podei descansar coisa do céu, que teu oficio é inóspito em meu amanhecer, afasta aquela tarde, porque tudo que eu veraneio é gelo em contraproposta.
Eu cato perdidos num só traço, fustigo, ambíguo abraço. Eu cuido a quem se obriga a humilhar-me, falo a quem se presta à afogar certezas, então acelera-se a colorir a noite, tirar-lhe todo o roxo e só deixa-la nua: dois cálices de luxúria.
Nas mágoas das fadas, nos tons mais sóbrios que pudermos, vamos fazer uma boa vida pra esperar a sorte de não ficar aqui por muito tempo, e poder colorir com as próprias cinzas a noite.
Se nos permitirem as lendas, de todas as performances vamos brindar, de inúmeras poses vamos fatiar... E vamos, sem mais estes compromissos foscos, sem mais este chuvisco que me divide entre a eternidade e o não saber. Vou calar o pensar das grandes mentes, e assistir as senhoras assando seus futuros à gás, apreciar as partilhas saboreando estrelas numa mesa de quatro lugares, limpando suas bocas tortas em sorrisos de pano. Se sonhar for liberado, minha expressão será só metamorfose... Sem rostos mordidos, sardas inexatas e faces ilegíveis. Bastará quando o sonho de fato persistir nas portas, somente as mãos em azul muito forte correr de toda vontade e os trajes não seguirão a pobreza da moda, as cordas viverão a cantarolar suas luzes sem raio... No longe dos templos da aura, mais palavras brotarão como mágica, e defesas anuladas como pólvora, devorada, digerida e devolvida a vida.
Será a hora de perseguir construídos, quando o enigma compartilhando-se, e na palma da mão absorver todo o inverno... E o enigma é, o enigma será... Pra não descobrirmos, nem desenvolvermos.
Sorrisos piratas numa poça rasa, a maldição de querer o bem a quem nem se conhece, de fazer o sempre a quem nem se protege, sem maltratar estrelas sem toca-las no chão.
Já vai, o menino cresceu, a grama também cresceu, podaram a grama e o menino, já vai, já foi, mas ele não esqueceu... nos fim das horas só resta acalentar a conjunta e maldita prece, o sossego gritando num rádio a meia noite. Acariciando os pesadelos, as negras formas se interligam num rádio, a meia-noite.
Saudosas senhoras do chá em suas meias finas bebem do rádio, meia noite. Gulosas cafetinas e seus sexos com morfina consomem também do rádio, a meia noite. É pecado pagar mentiras, é real ser inúmero congênito, parcial humanidade, a toda verdade da igualdade se reduz numa lúdica face e ouvido, a apreciar sem falsetes e cantos escuros, um rádio à meia noite.
A falência de toda tristeza, moradia de toda falange, uma gravata e o terno curam-se no suspiro de um rádio, à meia noite. As supostas, as propostas, lounges e mídias, as médias e tíbias, o alçapão gelado encontra-se num rádio à meia noite. As curtas e grossas, modestas e porosas, sem talentos e místicas, o decote invisível promete-se num rádio à meia noite.
E o prazer estará em montanhas não encantadas, o arco-íris vai propagar mais forte suas pontes de vento, as loucuras traçadas como advento do tempo, porque é quando a humanidade involuntária se une e retoma, pausa a peça e se descobre na calamidade da igualdade... Sempre juntos, sempre da mesma forma, e para sempre... Num rádio à meia noite.
Douglas Tedesco
quarta-feira, 8 de julho de 2009
O SANTO MICHAEL JACKSON
O passo Moonwalk, luvas brancas, jaqueta com detalhes dourados, e clipes de tirar o fôlego... Todos estes itens fazem parte do passado: Michael Jackson está morto, e isso não é mais novidade nem para o mais isolado ou eremita dos seres, a mídia compulsiva e sensacionalista dá um jeito, o seu jeito, de chegar aonde for preciso. Há quem ainda duvide da morte do astro, este colunista particularmente acha que tudo não passa de um grande golpe midiático: com inúmeras dívidas, sérios problemas de saúde, cinqüenta shows a frente sem ter condições físicas pra isso e a pressão incessante dos fãs de todo mundo, dizer que não iria mais fazer os shows, simplesmente cancelá-los seria uma grande decepção para o público, a criação de uma imagem ainda mais negativa do que tinham até o anuncio e pronunciamento do próprio Michael sobre os shows... E como o astro compartilha de boa dose de gosto por excentricidades, forjar a morte o faz livrar-se de todos os problemas, liquidar dívidas, distanciar da imprensa, e não precisar mais fazer shows, enfim descansar, já que além das melhoras, é tudo o que uma pessoa adoecida mais deseja. Então você leitor pode agora perguntar: mas e onde ele estaria? Como seria possível se ele passou pelo IML, sendo que nos EUA estes processos são bem mais rigorosos? Alguém não acabará o encontrando? Ele conseguiria fazer isso tudo sozinho? Muitas perguntas, poucas respostas, mas é como diz a sábia e misterioso filosofia: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que conseguimos ver e até mesmo imaginar”. Ele foi enterrado? Cremado? Mumificado? Crucificado? Poucos sabem, o que deixa ainda mais mistério e dúvida. Rei do pop, com toda certeza, embora isso não mova muitos mundos, mas abala as estruturas da mídia e até mesmo de muitas pessoas, inúmeras pessoas que viraram fã “coincidentemente” após sua morte, algo extremamente notável na internet por exemplo, em que no site de relacionamentos orkut, na sua comunidade oficial o número de participantes triplicou duas horas após seu falecimento, e as falta estoque de seus discos nas lojas. Assim como todo artista, sua morte só lhe deu mais fama e fortuna. O mesmo aconteceu e acontecerá com outros artistas, como exemplo Ronaldinho fenômeno, Gisele Bundchen e a rainha do pop: Madonna. Michael era refém do talento, não havia como escapar dele, desde pequeno, seu pai o obrigava a ensaiar horas e horas sem descansos, o mesmo pai que depois de sua morte, aproveitou o assunto para lançar uma gravadora e cobrar milhares de dólares por uma entrevista. O cantor recordista de vendas no mundo, e o autor da revolução na indústria do videoclipe, sendo as duas marcas alcançadas com o inconfundível trabalho Thriller, não mais vive, segundo algumas piadas de humor negro que surgem na internet: Michael agora foi dançar o moonwalk para Deus e, devido às suas acusações por pedofilia ainda incitam: coitados dos anjinhos, e São Come e Damião que se cuidem! Michael Jackson é mito e isso é fato, no entanto não e a primeira vez que isso acontece... O mundo já pode ver isso, pelos menos três vezes mais: com Carmen Miranda, a pequena notável, Elvis Presley, o eterno rei do rock, do qual ainda hoje permanece a célebre frase: “Elvis não morreu”, e anterior a Elvis, o falecimento da mulher mais sexy do mundo, Marilyn Monroe, foi responsável por parar o planeta, sendo uma morte mais misteriosa do que a de Michael, envolvendo suspeitos como o cantor Frank Sinatra e o presidente John Kennedy, diversas fotos chocantes da autopsia da cantora e atriz foram publicadas na extinta revista brasileira Manchete, no entanto jamais houve laudo da mesma, e algumas pessoas disseram tê-la visto em uma fazenda do presidente Kennedy após a data de sua morte... O mesmo, e até mais se espera com Michael Jackson, agora canonizado pela mídia, sendo esquecidas suas polemicas, atestado como um “ótimo homem”. Agora fartos de sua fortuna, os irmãos desfilando de luvas brancas e imensos óculos escuros, o amam incondicionalmente, o pai então, nunca teve um filho melhor, e mais mistérios estão por vir, mais boatos, mais páginas inteiras na internet, matérias em telejornais e especiais
terça-feira, 2 de junho de 2009
VERDADES SOBRE O CHOCOLATE
Chocolate: vilão ou mocinho?
Por Giuliana Reginatto
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São Paulo, 26 (AE) - Ovos de Páscoa são como enfeites de Natal: é quase impossível transitar pelo mercado sem notar que já chegaram. O próximo destino deles é o estômago do consumidor. No mês do chocolate livre, vale ressaltar que a versão tradicional contém cerca de 30% de gordura e 47% de açúcar, combinação que pode interferir no curso de algumas doenças, como diabete.
Em contrapartida, o doce também traz benefícios, sobretudo no caso do tipo amargo, escuro, que tem mais cacau. Se essa é a informação que você sempre quis ler sobre a guloseima, saiba também que
Apesar disso, há quem não passe um só dia sem chocolate: são os chocólatras. Será verdade que vicia? Confira abaixo a resposta dos especialistas para os mitos que rondam o queridinho da temporada.
1. Chocolate é benéfico para o sistema cardiovascular?
A nutricionista Cyntia Carla da Silva, coordenadora do setor de nutrição do Hospital do Coração, diz que o chocolate com pelo menos 70% de cacau é aliado da saúde cardiovascular. "Os antioxidantes estão na massa de cacau, formada pelas sementes. Quanto maior a concentração de cacau, mais benefícios o chocolate trará. Os flavonóides do cacau ativam a produção de óxido nítrico no corpo, levando ao relaxamento dos vasos sanguíneos e à queda da pressão arterial. Eles também reduzem a oxidação do LDL, evitando que esse colesterol ruim se deposite na parede dos vasos", diz.
2. Chocolate diferentes têm mesmo valor nutricional?
A nutricionista Cyntia lembra que o termo chocolate é usado para doces diferentes - mesmo que os valores calóricos sejam iguais, a composição nutricional é variável. "O chocolate branco nem usa a massa de cacau. Leva manteiga de cacau, açúcar e leite. Ou seja: não tem os antioxidantes da massa de cacau", diz. Para usufruir de antioxidantes, em maior concentração no tipo amargo, é preciso ingerir muito chocolate. "O efeito positivo se nota a partir de cerca de 50 miligramas de antioxidantes, o equivalente a
3. Chocolate vicia?
O nutrólogo Osman Gióia, diretor da Associação Brasileira de Nutrologia, diz que certas pessoas são mais sensíveis aos compostos presentes no chocolate. "Estas substâncias químicas possuem ação que leva à dependência, mas não são todos os indivíduos que sofrem esta ação", garante. Ele destaca um composto com efeito semelhante ao da maconha. A substância, segundo o profissional, é alvo de estudo na Argentina. Trata-se da anandamina. "É um canabióide que tem a mesma ação cerebral que a 'marijuana'. A quantidade é tão pequena que não dá margem para o chocolate ser confiscado pela polícia, mas tem uma ação positiva para mitigar os amores desenganados", analisa.
4. Tem efeito afrodisíaco?
De acordo com Gióia, chocolate contém substâncias estimulantes, como feniletilamina e cafeína. Também apresenta teobromina, relacionada à serotonina, que melhora o humor. Segundo o médico Edson Credidio, doutorando em Ciências de Alimentos pela Unicamp, na amêndoa do cacau existe ainda a feniletilamina, substância produzida em grandes quantidades pelo cérebro dos apaixonados. "Consequentemente, com a ingestão do chocolate as taxas dessa substâncias são elevadas, promovendo sensações extremamente agradáveis ao usuário do alimento", informa.
5. Provoca alergias?
Para o médico Credidio, autor do livro Alimentos Funcionais na Nutrologia Médica, "o chocolate é um dos alimentos tradicionalmente relacionados a crises de enxaqueca, apesar de os estudos científicos não evidenciarem claramente a relação". Uma das hipóteses é a de que a enxaqueca seria uma reação alérgica em pessoas intolerantes ao chocolate. A intolerância também pode se manifestar por meio de alergias de pele. Os quadros de acne, contudo, não estariam relacionados só ao chocolate, mas sim à ingestão de vários alimentos gordurosos e ricos em carboidratos.
ENTREVISTA COM FERNANDA MONTENEGRO
LUCAS NEVES
da Folha de S.Paulo
"O ator é o demônio que dá passagem a outra entidade esquizofrênica dentro dele", costuma dizer Fernanda Montenegro, 79, aos jovens intérpretes que lhe perguntam como se constrói um personagem.
Quem a vê em cena, no monólogo "Viver sem Tempos Mortos", na pele da porta-voz do feminismo, Simone de Beauvoir (1908-1986), e depois conversa com ela "à paisana" sobre a peça que estreia
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Luiz Fernando Ramos comenta as principais peças da atriz
A ternura com que, no palco, Beauvoir recorda os primeiros encontros com o futuro companheiro Jean-Paul Sartre é análoga à de Fernanda ao falar, num sorriso saudoso, do começo do casamento com Fernando Torres, morto em 2008.
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"Numa pensão na rua Rui Barbosa [
As percepções da maturidade também são espelhadas. Em cena, Beauvoir se surpreende com a impressão de não ter envelhecido, embora se sinta "instalada na velhice". Com maquiagem sóbria, Fernanda observa que "seria mentiroso dizer que me sinto melhor do que quando tinha 20 anos", mas "os anos dão uma consciência que não tem preço".
Na entrevista a seguir, ela defende a atualidade do discurso de Beauvoir. Na política, acha que o Brasil está pronto para ter uma mulher na Presidência --sem endossar a candidatura de Dilma Rousseff. E afirma que se faz hoje no país apenas o "teatro possível", por conta das dificuldades de financiamento. Veja a íntegra.
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Folha - Oito anos separam sua última peça, "Alta Sociedade" (2001), de "Viver sem Tempos Mortos". A que se deve esse longo hiato?
Fernanda Montenegro - Há dez anos, "Central do Brasil" estourou. Não tinha como ficar pensando
Folha - Como o projeto de montar, com o ator Sergio Britto, uma peça sobre Anton Tchecov (1860-1904) se transformou em um monólogo sobre Simone de Beauvoir?
Fernanda - Fomos pelos caminhos mais malucos. Queríamos primeiro fazer um texto sobre as cartas do Tchecov para a [atriz] Olga Knipper [mulher do autor]. Soubemos que havia dois textos, ambos na mão de alguém. Aí o Sergio se lembrou do Sartre e da Simone, porque tinha saído o livro "Tête-à-Tête" [biografia do casal]. E são duas personalidades ligadas à nossa memória mais jovem. Comecei a organizar esse material, e o tempo correu: Sergio estreou com sucesso "A Última Gravação de Krapp/Ato sem Palavras 1", de Beckett. De repente, nos separamos. Fiquei com a Simone, ele com o Beckett.
Folha - Em que momento entrou o diretor Felipe Hirsch?
Fernanda - Tenho um papo com ele de dez anos para fazermos algo juntos.
Já passamos pela Hannah Arendt, pela Clarice Lispector. Achei que era o momento de chamá-lo para me conduzir. Trouxe sua gloriosa equipe [Daniela Thomas na cenografia e Beto Bruel na iluminação]. O problema maior era se ele via possibilidade naquele texto, porque era uma compilação de uma compilação, sem nenhuma ambição de esgotar o assunto ou academizar o processo. Era um pequeno trabalho de uma loja da esquina. Quando ele disse que o texto daria não um espetáculo, mas uma encenação sensibilizada --que era por onde eu tinha ido quando "compilei a compilação"--, vi que estávamos harmonizados. Aí veio o processo de achar a encenação. Pusemos mesas, máquinas, cigarro, uísque, remédio... Esperei a intuição do Felipe. E ele foi dizendo: "Olha, acho que isso está sobrando...". Um dia, ele chegou: "Vou radicalizar, vou tirar tudo". [A montagem] É mais uma voz, um roçar, um arranhar a vida intensa e inesgotável que foi a dessa mulher.
Folha - Muito se fala hoje em pós-feminismo, em conquistas femininas consolidadas, espaços sociais e profissionais ganhos. O discurso de Beauvoir sobre a igualdade entre os sexos não parece anacrônico?
Fernanda - Acho que não, porque o discurso da liberdade e do autoconhecimento nunca será algo fora de cogitação. Esse conceito de liberdade, que é complexo --até onde você se aprisiona na sua consciência ou na sua neurose?--, traz um mistério que uma teoria radicalizada muitas vezes não quer ver.
Folha - Em Beauvoir, por trás do discurso emancipacionista e da defesa do amor livre, parece haver traços de romantismo. Digo isso porque, em "Viver sem Tempos Mortos", a personagem comenta a relação com Jean-Paul Sartre desta maneira: "Nossa vida não tinha sentido para além do nosso amor".
Fernanda - Mas será que é romântico? Ela diz uma coisa que eles cumpriram: o amor estava acima das vidas, e nada modificaria isso, nem uma possível separação, nem futuras paixões, nem a guerra. Portanto, não acho que seja uma visão romântica. A não ser que, toda vez que se fale de amor, a gente vá lá e o derrube com esse rótulo. Ela estava falando de um amor acima de futura separação, de futuras paixões e mesmo de uma guerra. E isso eles cumpriram, mesmo sem mais nenhum interesse sexual. Acima da relação sexual. Só se for uma visão romântica à
Folha - Beauvoir defende que a mulher seja entendida segundo parâmetros próprios, e não masculinos. Num país como o Brasil, em que ainda resiste o machismo, é possível pensar em uma mulher presidente?
Fernanda - Ah, completamente. Não que eu esteja endossando ou não a [candidatura da ministra da Casa Civil] Dilma [Rousseff]. É interessante não quando a mulher vem para o poder no velho esquema, de substituir o homem no seu temperamento de agir. A gente está esperando que as mulheres que chegarem ao poder tenham pelo menos o sentimento do feminino à frente de qualquer outra coisa, e não que sejam imitações acentuadas, mais contundentes do homem.
Folha - E qual seria essa marca do feminino no poder?
Fernanda - É um sentimento. Tem algo na mulher que é o seu olhar para as entranhas. O homem é um pau levantado para o horizonte. A mulher, não. Ela é incubada, obrigada a entrar em contato com o interior do seu sexo todo mês, tem esse ventre. Isso não quer dizer que vá ser mole, que a delicadeza não possa ser absolutamente poderosa.
Folha - O compêndio sobre Beauvoir e Sartre feito pela sra. recebeu algum verniz dramatúrgico antes de ir à cena?
Fernanda - Não. Tenho uma longa experiência de lidar com textos de alta dramaturgia. Fiz por dez anos um teleteatro em que todos do grupo cortavam, dinamizavam os roteiros. No rádio, redigi um programa literário, adaptando contos, romances, crônicas. Mas, talvez por uma fidelidade ao palco, nunca quis me dispersar em algo que não fosse a interpretação mesma. O único momento em que saio disso é nas oficinas de leitura dramática [que conduz em várias partes do país]. Penso em um dia talvez dirigir alguma coisa com qualidade literária. Mas não tenho ambições de montagem, por exemplo. Sempre acho que, em teatro, menos é mais. O excesso, o ruído cenográfico só perturba.
Folha - A sra. acompanha o trabalho de novos autores?
Fernanda - Na medida do possível, porque o Brasil todo produz teatro, o país todo tem grupos, alguns de excelente qualidade, como o Galpão (MG), o Piollin (PB), o Ponto de Partida (MG). Sei da voltagem teatral que o Brasil tem, sem nenhuma demagogia. É interessante que já houve época em que [os grupos] tentavam vir mais para o eixo Rio-São Paulo. Hoje, querem ficar nas suas cidades e de lá se projetarem por meio dos festivais.
Folha - O que mudou no ofício de ator desde que a sra. começou no radioteatro (em meados dos anos 40)?
Fernanda - Sou do tempo do ensaiador português, cujo primeiro conselho é: o ator tem de começar aprendendo a ouvir o ponto [o auxiliar de cena que, escondido do público, lembra aos atores suas falas]. A fase áurea foi a chegada à América do Sul de encenadores europeus que tinham boa formação acadêmica, como Zbigniew Ziembinski, Eugenio Kusnet, Gianni Ratto e Maurice Vaneau. Eles nos transmitiam uma logística de como se aproximar de um texto dramático. Todos tiveram assistentes brasileiros, como o Antunes Filho. Formaram uma frente de encenadores com capacidade de ir a uma outra geração além deles. Nos ensinaram a ler textos do ponto de vista social, existencial. Somos essa geração que tem por volta de 80 anos. Os encenadores que foram assistentes estão passando adiante o que eles trouxeram. É claro que, a partir de uma hora, com a contracultura e o domínio de uma segunda geração, aquela disciplina de corpo de balé, de companhias ensaiando 12 horas por dia, repetindo até morrer foi perdendo força. Havia grupos falando de si mesmos, uma criatividade mais comunal, um jogo menos acadêmico. E aí começou a haver uma mescla de experiências.
Hoje, por causa do processo econômico do teatro, temos o teatro que se pode fazer. Alguns grupos corajosamente são grandes, mas vão buscar seus recursos de sobrevivência em outros trabalhos, pois ali é apenas o prazer do jogo teatral. Para se concretizar o processo de presença artística, vamos para os monólogos. Não se faz isso porque a gente queira estar sozinho
Folha - Os atores Rodrigo Santoro e Alice Braga estão em ascensão em Hollywood, cenário em que a sra. transitou na esteira do sucesso de "Central do Brasil". Que caminho eles devem buscar ali?
Fernanda - São dois atores com muito bom senso. Somos sul-americanos contaminados pela visão mexicana que o americano tem de toda a América Latina. Lá fora, não saímos disso. É importante ter essa consciência. Inventaram a raça latina: agora tem branco, amarelo, negro e latino. É isso que nos cabe ali. O que puderem aproveitar desse espaço, ótimo. São jovens talentosos já com excelentes resultados em seus papeis, maiores ou menores. Mas há um destino cravado, que é a latinidade. Não adianta se iludir.
Folha - A sra. recebeu vários convites para papéis desse tipo, não foi?
Fernanda - Sim. Salvadorenhas, chilenas, madrilenas, até uma iraniana. Onde é que isso vai me levar? Não tenho mais 20 anos para ter ilusão hollywoodiana. E Hollywood já não é o espaço mítico que foi nos anos 30 e 40.
Folha - Com que diretores estrangeiros gostaria de trabalhar?
Fernanda - Nos EUA, queria ter trabalhado com o [Robert] Altman e o [Stanley] Kubrick. Na Europa, com [Ingmar] Bergman, um monstro que mexia com os atores de forma absoluta, os levava a instantes de dimensão interpretativa inalcançável. Sobrou só Pedro Almodóvar, um criador imenso.
Folha - E brasileiros?
Fernanda - Beto Brant. Os filmes dele têm nervo, inteligência, clareza.
Folha - No cinema brasileiro, o ano tem sido marcado pelas ótimas bilheterias de comédias rasgadas, como "Se eu Fosse Você 2" e "Divã". Como vê o sucesso desse gênero?
Fernanda - Acho fundamental. Precisamos ter uma diversificação de programação no nosso cinema. Eles [os filmes] podem ser crucificados por uma crítica mais purista, mas qualquer cinema do mundo se fez mesclando gêneros, propostas, genialidades e banalidades. É a história do cinema americano, francês, italiano. Não há uma indústria cinematográfica feita só de criadores exponenciais.
Folha - A sra. disse certa vez que o salário da televisão lhe havia permitido voos cegos no teatro. Foi possível em algum momento fazer esses voos cegos na própria TV?
Fernanda - Arriscamos na novela "Guerra dos Sexos" (1983). Achavam que aquele humor daria só para um mês, que era preciso haver uma história melodramática, séria para servir de porto seguro quando a graça afundasse. E foi o que não funcionou durante seis meses, ou funcionou só como espaço de passagem: "Vamos dar uma passadinha ali e vamos já cair na farsa". E com o Luiz Fernando Carvalho [com quem trabalhou em "Renascer" e "Hoje É Dia de Maria"], é sempre um salutar voo cego, altamente produtivo e comovente.
Folha - O que pensa das telenovelas de hoje? Há quem veja um esgotamento do gênero.
Fernanda - Acompanho, na medida do possível, "Caminho das Índias". É tão kitsch que vejo. É um pulo no abismo, sem rede. Vejo que os atores começaram estranhando as roupas, os cenários. Mas, meses depois, já não têm mais problema, aceitaram um tipo de jogo. Estão plenos. Vejo o trabalho do Tony Ramos, por exemplo, que, como um danado de um ator que é, está pleno. E os moços estão lá, dando conta e aprendendo o seu ofício. Nas outras novelas, às vezes, eu acho que tem um pouco de clipe demais. Mas vejo que uma pessoa como o João Emanuel Carneiro [roteirista de "A Favorita"] tem tutano, coragem.
| Daryan Dornelles/Folha Imagem | |
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"Acompanho, na medida do possível, 'Caminho das Índias', diz Fernanda Montenegro sobre novela |
Folha - Por que, nos últimos 20 anos, os produtores culturais brasileiros passaram a depender tanto de patrocínios e leis de renúncia fiscal?
Fernanda - No início, era possível ir ao banco, contrair uma dívida --fosse um espetáculo contestador ou de consumo--, e a bilheteria era nosso aval. Assim se viveu por 30 anos. Veio a mudança da capital, uma grande inflação, a impossibilidade de se manter elencos fixos por ano. Houve renúncias. É impressionante como não se estuda isso no Brasil: o que todo esse movimento que vem desde a morte de Getúlio até agora --esse mundo político inseguro, com jogadas de sobrevivência ideológica, censura e perseguições-- custou para a cultura brasileira, principalmente as artes cênicas. Porque você pode tocar sua clarineta que está tudo bem, pode dar 10 mil passos de balé que tudo bem. Agora vá para a cena e fale um texto que o militar lá acha que é contra o regime. Falou o que não tinha de ser falado, está cassado.
Diante de um Brasil que se industrializou, essas companhias com agrupamentos à la século 19, de 20, 30 pessoas em torno de um espetáculo foram sobrevivendo amadoristicamente. Ou então se fazia o teatro de produções certas, por um período curto, que é o modelo que vigora até hoje. Isso foi industrializando o produto teatral. Isso e a censura nos levou para o atendimento cultural governamental.
A primeira Lei Sarney [de 1986, que implantava o sistema de renúncia fiscal no patrocínio à cultura] precisava de apenas algumas tarrachas. Mas aí resolveram acabar com a lei e fizeram uma outra, a Rouanet [1991]. E essa era tão fiscalizante que não funcionava. E veio o Collor, que acabou com todo o processo cultural do país. Tudo cada vez mais indo para o colo do governo.
Hoje, estamos, talvez envergonhadamente, estatizados. Alegam que os que têm nome vão e recebem os patrocínios. A maior parte das empresas que você visita diz que não têm lucro.
Não se sabe direito os critérios das comissões que selecionam projetos. Acho justíssimo que se faça prestação de contas de uma agulha, uma caixa de fósforos. Só gostaria que todos os ministérios tivessem o grau de exigência que o Ministério da Cultura tem com o ato cultural brasileiro, quando este passa por uma lei do governo. Que todos tivessem o mesmo pente fino, a mesma acuidade com o dinheiro público que o MinC exige de quem leva dinheiro público.
Folha - Não é verdade que os nomes consagrados recebem mais patrocínios?
Fernanda - Não necessariamente. Porque as verbas são entregues ao diretor do setor de marketing. Tanto o consagrado quanto o alternativo recebem um "não". Para dividir e poder reinar, criou-se a expectativa de que o consagrado chega e abre todas as portas. Isso não é verdade. Falo por experiência própria.
Folha - Os artistas consagrados levam tantos "nãos" quanto os grupos de pesquisa?
Fernanda - O diretor do grupo experimental não vai ser alugado como o nome dito consagrado, que tem de dar autógrafo para todo o sistema de atendimento daquele andar [da gerência de marketing da empresa], para o presidente da organização, para a mãe, a mulher.
Folha - E como vê o debate atual sobre a reforma da Lei Rouanet?
Fernanda - É uma reforma que não precisa existir. A lei tem de ter um apuro, ajuste. O Fundo Nacional de Cultura é fundamental, assim como é deixar uma brecha para quem queira atender por fora dele [por renúncia fiscal]. Por que confinar todos num só guichê? É preciso ter mais portas, porque, se todos vão ao fundo, aí é estatizar, por mais que se queira defender o não-dirigismo. Aí toda a cultura brasileira será entregue a uma comissão. Quem são essas pessoas? Que cabeça elas terão no tempo? Você está confinado a uma chancela que pode ter apenas uma visão ideológica, apenas uma visão estética, apenas uma visão existencial. É poder demais.
O que se pode fazer para evitar abusos é botar lá um parágrafo dizendo que não pode trazer estrangeiros patrocinados por leis de incentivo à cultura. São esses apuros que já deveriam ter sido feitos desde a Lei Sarney.
Folha - Os epítetos que lhe foram dados pela mídia, como grande dama do teatro brasileiro, alguma vez interferiram na sua decisão de fazer algum projeto? Já hesitou diante de um convite por medo de comprometer sua reputação, imagem?
Fernanda - Em primeiro lugar, não fui eu que criei isso. Não tenho nada a ver com isso. Nasceu de fora para dentro. Não tenho nada com essa fantasia. Tenho uma vida de trabalho, ofício. O que possa ter da chamada "boa imagem" [aspas da atriz] não é para ser uma imagem, é resultado de uma consciência. Não sei por que só fazem isso com as atrizes. Há um certo debique quando falam em "grande dama". Isso pode corresponder a uma saudação até honesta, mas também a um certo humor, sarcasmo. Não tenho uma imagem que criei para me defender de algo que eu não sou. Ninguém me faz propostas que me agridam, que seja obrigada a recusar para guardar uma imagem.
Folha - No fim de "Viver sem Tempos Mortos", a personagem de Simone de Beauvoir diz: "Meu passado é a referência que me projeta e que devo ultrapassar". Com que projetos a sra. pretende ultrapassar o que fez até aqui?
Fernanda - Olha, se disser a você que não tenho projeto nenhum... É que já vivi mais do que possa viver. Quando você tem muito a viver, naturalmente tem projetos. Mas chega uma hora em que o meu projeto primeiro é estar inteira. Para o futuro, tenho uma novela do Silvio de Abreu, um convite do Teatro do Porto (Portugal) para atuar em "A Amante Inglesa", de Marguerite Duras. E o sonho de 50 anos de fazer alguma coisa da Clarice Lispector. Mas sempre tem tantas Clarices sendo feitas que deixo para daqui a pouco. Mas não tenho mais tempo de experimentar o que experimentei, de passar por mais 50 personagens. Então não é uma visão festiva.
Folha - Isso lhe traz angústia?
Fernanda - Seria idiota se dissesse que não. Seria mentiroso dizer que me sinto melhor do que quando tinha 20 anos. Isso não existe. Os anos dão uma consciência que não tem preço, ou que tem o preço da sua juventude. Mas não sei se trocaria a minha vivência de 80 anos pelo tempo não vivido quando a gente tem 20. Nessa idade, a gente nem se vê vivendo.